29 março 2010

Meu Namoradinho Gay

Começou assim: uma noite sai com meu namorado e minha melhor amiga prá um bar underground, estávamos lá, juntos com um monte de gente esquisita dançando quando apareceu um rapaz muito bonito e um pouco alcolizado puxando conversa, dizendo que parecíamos ser as pessoas mais normais daquele lugar e perguntando se podia ficar conosco! Claro, concordamos, ele era simpático e não parava de falar, em 5 minutos resumiu sua vida e dilema atual: ele era um cara normal, com família, dinheiro, namorada, faculdade e de repente tudo mudou, seu pai morreu, o dinheiro acabou, largou a faculdade, a vida playboy e saiu do armário! Nessa hora dei uma olhada prá minha amiga hétero e pensamos o inevitável: bonito e legal, tinha que ser gay! Mas realmente não parecia! De jeito nenhum, bem, fazer o que... Então ele terminou com a namorada patricinha, enfrentou uma barra em casa e estava descobrindo o mundo gay, mas não estava gostando... quer dizer, ele gostava de homem, mas não gostava de gay, se a gente estava entendendo? Claro, claro...Logo após, o encontro dele da noite apareceu, esse sim, não enganava ninguém, até se não estivesse acompanhado da amiga travesti. Era simpático também, bastante afetado e logo deu pra ver que o casal mal se conhecia e já estava brigando e nos colocando (as 3 pessoas que pareciam um pouco mais normais) para intermediar a briga... a noite acabou, alguém trocou msn, e-mail, orkut ou qualquer coisa dessas e eu e minha amiga às vezes conversávamos com aquele primeiro rapaz, que definitivamente não parecia gay. Essa primeira noite foi no fim da época da Billie Jean logo depois que meu namoro entrou na lua-de-mel-pós-fim-de-namoro-que-não-acabou, achei o rapaz bonito, tinha a impressão que o conhecia de algum lugar mas o coloquei na minha lista de "Caras interessantes que quero ficar em uma outra encarnação" e não pensei muito nele. Uns seis meses depois o encontramos numa festa em um bar só um pouquinho mais normal e ele estava lá, com seu jeito estranhamente heterossexual sem-vergonha irresistível, um pouco doidinho, mas menos que a gente; meu namorado jurou que o viu beijando aquela minha amiga da primeira balada, mas como o mais sóbrio aquele dia mal chegava no banheiro sozinho, culpamos a cerveja e essa história virou piada interna.

Não sei quando é que tudo isso começou a complicar, mas acho que começou a ficar interessante quando descobri que já tinha ficado com ele. Logo depois daquela última festa ele começou a namorar e sumiu, só apareceu alguns meses depois no meu aniversário com o namorado (a velha história do desperdício conhecida por todas as mulheres hétero... houve quem mudasse de opinião sobre quem era o mais bonito do casal, mas eu não). Dias depois vendo as fotos do aniversário minha amiga reparou que ele era muito parecido com um cara que estava no meu álbum da época da faculdade, um que eu havia ficado quase dez anos atrás, com o mesmo nome e apresentado como um amigo gay de um colega gay da faculdade... eu sei, confuso. Olhei as fotos: muitas semelhanças, muitas diferenças, não me convenci, só confirmei quando alguns dias depois ele me mandou um recado implorando para que eu tirasse aquela foto do meu orkut (ele estava muleque, aquela foto queimava sua fita, ele morria de vergonha, blábláblá - certeza que era prá evitar ciume da biba, o que reforçou minha idéia de não tirar a foto sob circusntância alguma, sempre tive prazer em irritar parceiros ciumentos, não importando a orientação sexual...) falei que ia tirar mas não tirei, havia prometido a mim mesma que não apagava uma foto, uma história, uma frase sequer da minha vida, nunca mais, depois de um namorado ciumento que tive; não tinha vergonha da minha vida, se ele tinha vergonha da dele o problema não era meu... era a desculpa que dava prá mim mesma, a verdade é que eu adorava aquela foto! Lembrava exatamente daquela noite louca, no meio de um período sentimentalmente caótico, em que meu amigo gay da faculdade apareceu em uma festa na minha casa com um menino lindo, um amigo que iria com ele prá uma balada gay e que (tristeza) também era gay. Não me conformei, não acreditei e não desisti, conversei e conversei, talvez o tenha embebedado um pouco, falei que não me importava que ele não gostava de mulher, eu não era só uma mulher, eu era EU! Uma pessoa, as pessoas deveriam transcender essas bobagens de sexo, preferências, preconceitos e que ele tinha que ficar comigo por quem eu era e que ele não poderia me descartar assim, só porque eu não era homem, não era justo ele não me achar interessante só por isso...(estou envergonhada, foi um tanto de lábia, tanto de um desejo inexplicável ou despeito e um pouco de vontade dele, é claro, mas essa conversa funcionou) nós ficamos e foi ótimo, quer dizer, prá mim pelo menos. Não costumo me lembrar de muitas coisas de caras que só vi uma vez e que não tive nada mais íntimo, fisica e psicologicamente, e foi este o caso, mas me lembrava bem deste: lembro que me gabei pq ele não ficou tão desinteressando quanto eu imaginei. Ele gostou de mim, gostou do meu corpo, de estar comigo, lembro dele se espantar um pouco com a sua empolgação ao me tocar, ele gostou, definitivamente. Homens mentem, seus corpos não (pelo menos não naquela época em que essas pílulas não estavam tão na moda). Mesmo agora, de vez em quando ele ainda me lembra de que não apaguei a foto album eletrônico, dou uma desculpa mas ela está lá e vai continuar, um troféu de uma época em que não ganhei muitos, a lembrança de uma dessas poucas noites em que parece que nada é impossível. Sim, foi aí que o tirei daquela minha lista mental do desejos que deveriam ser guardados prá um futuro distante e irrealizável. Acho que quando me dei conta de tudo isso abri caminho para que a história começasse a ser um pouco mais complicada e continuasse aquela noite de 9 anos atrás.

28 outubro 2008

Eu, meu namorado e sua outra namorada


Começou assim: numa noite de final de semana eu não estava animada prá sair, estava no apartamento dele prá passar a noite lá, ele quis sair. Não me opus, estava cansada ou doente, e não queria treta, só dormir, de preferência acompanhada dele, mas...dormiria com ele assim que voltasse da balada. Por algum motivo idiota ele estava sem a chave da própria casa e levou a minha, de maneira que fiquei trancada dentro do apartamento, dormindo. Eram 11 horas da noite, no máximo. Às 3 horas da madrugada acordei, ele não tinha chegado, voltei a dormir, já deveria estar vindo embora. Às 4 não estava me sentindo muito bem mas parecia que tinha ouvido um barulho, virei pro lado e fechei os olhos, sonolenta. Foi assim até as 6 horas da manhã, aí me preocupei. Nós nunca chegávamos à esta hora, podia ter dado algum problema no carro ou ele podia ter sido pego na lei seca (ele nunca teve crédito no celular e no momento o meu tb estava sem). Como eu seria avisada em alguma emergência? Como explicaria a situação nalguma emergência? Não poderia, enquanto eu pensava nisso tudo a bateria do meu celular acabou, não havia outro telefone no apartamento, estava trancada lá dentro e começava a imaginar às sete horas se começaria a gritar por alguém na rua, quando comecei a chorar. Chorei de raiva, de preocupação, de claustrofobia, de qualquer coisa ruim indefinível...ele apareceu. Calmo. Dormiu com uma menina que conheceu na balada, havia perdido o horário, não entendia porque eu estava tão nervosa. Foi assim que a conheci.


De repente ele apareceu com uma conversa que determinado dia nós não poderíamos sair juntos, ou teríamos que sair sozinhos, não escondeu o motivo: queria encontrar outra pessoa que, segundo me disse, sabia que ele tinha namorada e que a relação dos dois seria apenas casual. Nem comentei, não insisti muito e deixei. Um dia fiz questão de conhecer a menina (ela é 5 anos mais nova que eu, o que prá minha idade e prá idade dele, representa uma diferença razoável). Conhecendo minha personalidade liberal e certamente com alguma segunda intenção, certo dia nós aparecemos juntos no lugar onde ele a encontrava. Fiquei tensa. Como ela seria? Homem é tão fútil, e se ela fosse mais bonita do que eu, ele iria deixar tudo prá trás por causa disso? Ela não era. Inflei os pulmões e a auto-estima e fiquei tranquila. Ela é que ficaria com medo. Ele discretamente foi conversar com ela sozinho, diretamente ela não chegou a me olhar, mas tenho certeza de que ela me viu. Ele voltou, ela estava com receio de me conhecer, certamente pensando que eu era alguma namorada ciumenta que iria armar barraco no meio da festa, o de sempre...convenci-o de que só havia uma maneira dela perder esse medo, era ele me apresentar e imediatamente eu começar a conversar com ela. Foi o que aconteceu. Na verdade foi até fácil, estudamos na mesma cidade, tinhamos conhecidos em comuns e acreditem, descobrimos até que éramos meio parentes...è, era estranha, mas não era tão feia assim, só diferente. O que será que ela pensou de mim naquela hora? Acabamos amigas. E, por mais que ela relutasse um pouquinho, logo estávamos saindo juntos, os três.


Pronto, provavelmente era aí que ele queria chegar. Admito, minha curiosidade é bem maior que o meu ciúme e por nada neste mundo eu deixaria meu namorado se envolver com uma pessoa que eu não conhecesse e considerasse "segura", o que quer que isso possa significar. Até gostei dela, era uma pessoa interessante, ele teve o mérito de achar uma beleza exótica e bem fora dos padrões, entendi porque ele quis ficar com ela. Ele deu a idéia, era claro que eu aceitaria, ela relutou um pouquinho (devia ser nova no assunto, ou ser contra os seus princípios, sei lá), mas por algum motivo que eu só descobri mais tarde, aceitou. O estranho é que neste dia, quem mais aproveitou fisicamente a situação, fui eu. Comigo lá, faltava alguma coisa entre os dois, prá mim, nada faltou.


A dinâmica deve ter mudado um pouco entre os dois. Eu tinha certeza, ela estava apaixonada por ele. Sabia que isso daria problema. Ele achava que essas coisas pudessem ser todas resolvidas na conversa, que era só falar prá ela ele não largaria de mim por causa dela e que ele não queria outro compromisso que ela não se envolveria e ele poderia continuar com ela à vontade! Às vezes sou eu quem tenho vontade de usar termos mais vulgares prá definir essa incapacidade masculina de se fazer acreditar em tudo o que seja conveniente prá sua cabeça de baixo, mas não vou. Realmente acredito que ele achava que só falando ela não iria ter esperanças e aceitaria ser seu caso pelo tempo que ele quisesse, sem que isso representasse qualquer desrespeito à ela ou a mim. Não vou dizer palavrão. Aí veio a mudança, ele se mudou prá 400 km de distância de mim e dela. A tensão entre mim e ela se tornou óbvia: quem ficaria com ele nos finais de semana que ele viesse prá cá? Quem ficaria com ele quando ele não viesse prá cá? Eu viajei com ele prá conhecer a cidade, alugar a casa, ajudei na mudança e fui estúpida o suficiente prá pensar que a questão estava resolvida quando passei a primeira semana após a mudança com ele. Na semana seguinte ela foi prá lá.


Na cabeça dele, entretanto, ele só tinha uma namorada: eu. Ironicamente fui justamente eu que o esclareci da realidade, logo que ele voltou pela primeira vez prá cá passar dois dias na cidade me informou - surpresa - como ele passaria o final de semana: um dia comigo e outro com ela. Meu respeito por ele começou a diminuir aí: ele nem era homem o suficiente prá ficar só comigo e nem o era prá assumí-la de vez. Deve ter sido a primeira vez que falamos seriamewnte em rompimento. Não sei se foi especificamente por ela, mas meu respeito por ele já não era o mesmo. Essa situação absurda durou por mais algumas semanas, até que, coincidentemente, eu e ela descobrimos que num final de semana nenhuma das duas iria encontrá-lo, resolvemos sair juntas. Eu realmente gostava da companhia dela na maior parte das vezes (a exceção se dava quando ela tinha umas crises em que se tornava completamente apática, inerte, praticamente autista, o que me fazia desconfiar de que ela tinha algum problema). Nessa noite ela não estava assim, e não consigo imaginar como surgiu o assunto de suicídio na conversa, e ela, como quem conversa frivolidades lançou a bomba: tinha tentado se matar 2 dias antes, tinha acabado de receber alta do hospital!


Ele, óbvio, não queria saber de uma menina que tentava se matar por causa dele. Eu, eterna depressiva em recuperação, mas há anos longe dessa fase, de alguma forma me identifiquei com ela. E se fosse eu? Quando ele ficou sabendo do caso, fez o mínimo e lavou as mãos, dela passou a querer só a distância. Prá mim, ela iria tentar de novo, fiz o que pude prá impedir, no fim, apelei prá família dela e acabei perdendo o contato. Na minha intenção de ajudá-la acabei afastando os dois, acho que ela não me perdoou. Ficamos juntos mais um tempo, mas nunca mais foi igual. Perdi a admiração que tinha por ele e ele perdeu algo por mim (ele acha que foi o amor). Ainda acho que ele é a pessoa certa prá mim, apesar de tudo, ele já não tem tanta certeza e por mais que eu ainda o ame, não quero nada com alguém que não sinta o mesmo. Perdi o respeito por ele, prá não perder por mim. Ainda não sabemos o que foi que ele perdeu nisso tudo, mas ele ainda acha que a outra não teve nada a ver com a história. Alguém ainda tem esperanças.

25 setembro 2008

Alguns poemas antigos

I.
Há uma parte de mim em você,
Ele disse,
E sepois foi embora.
Como pôde ir embora sem sua parte?
(Que é tanto prá mim...)

Num certo momento foi o beijo,
Eu chorei aquele beijo,
Nele morria minha parte,
Que nem era minha.
Eu beijava e chorava o último beijo de amor.

Sentia no segundo
Sua boca se mexendo na minha
Tentei achar nos seus lábios
O momento que prendesse sua alma.
Não achei.
Ela foi embora,
prá onde não posso pegá-la.

Como posso viver com uma parte
Mutilada do todo?
(LFR)

II.Para Rod. Franca
Uma memória futura me empolga. O que me impede de viver e fazer e de não ser boa ou má, só ser? A culpa é útil, assim como as dores, elas nos devolvem a realidade e à luta para permanecermos aqui. Queria conseguir me amarrar com um cordão de prata infinito e voar por todo o universo, mas ter um lugar bem sólido para amarrá-lo e poder voltar quando quiser. Se eu conseguir dominar a matéria que domina, rir de tudo o que destrói, abrirei meu peito para a morte e a insultarei, porque agora não a temo. Ela não importa. Não haverá hipocrisia, nem mentiras, nem ciúmes. Por que não posso te beijar com toda a minha paixão e não trair o meu amor, tão caro e desejado, por outra pessoa? Não, o amor não é único e limitado como um combustível fóssil, sua energia pode ser eterna, vindo da luz do sol, da fluidez dos ventos ou da força dos átomos. A força constrói, destrói e constrói e nem o átomo é indivisível. Não, não tem que haver tristeza, nem tem que haver culpa. Quem teme o mal ou a dor, nunca poderá ser bom. Mas quem é feliz com a tristeza, quem fica imóvel pela culpa, é o insignificante que será engolido por tudo.

02 julho 2008

Enfim o testemunho...

Eu acredito que a morte não termina com a existência de quem vai, que deve continuar existindo em outro lugar, termina sim com uma forma de existência dessa pessoa em relação aos que ficam: a do tempo presente. Sobre quem se vai, podemos falar do passado: o que ela foi, era, ou de uma remota esperança de futuro, o que poderia vir a ser um dia; quem se foi, porém, não é mais, ou ainda...Uso uma metáfora tão forte como a morte pq não posso mais falar no presente, direi de um pretérito ou de um futuro mais que perfeito, o que não consegui dizer quando existia o presente em relação à ele.
O Régis foi uma das melhores homens que eu conheci na vida, não, foi a melhor, e nem sei se este adjetivo é digno dele. Quem considera, como eu, que este mundo é o verdadeiro purgatório, sabe que não é aqui que ele deveria estar.
Anjos descem à Terra pq, estando tão próximos do infinito, da perfeição, compadecem-se das criaturas sofredoras que habitam este planeta, e abdicam momentaneamente de sua harmonia e felicidade por nós sequer sonhada, para repartir conosco sua bondade e amor, suavizando nosso merecido degredo neste mundo de sofrimento e impermanência.
Encontrar um anjo é uma das maiores alegrias e tristezas pelo qual pode passar um espírito imperfeito: quem se conformou à desesperança, à desconfiança, ao egoísmo e à maldade inerente às pessoas deste mundo, ao conhecer o respeito incondicional, o carinho cuidadoso, as idéias iluminadas e a esperança de perfeição que só um ser de luz pode trazer, não pode continuar sem enorme sofrimento a própria existência se desposada dessa presença. Como aceitar as promessas de um futuro, de um mundo, de pessoas, tão imperfeitas quanto a si próprio?
Perdi o meu anjo, não pq tenha ele retornado de onde veio, mas pq findou o prazo da graça excelsa a mim concedida, de poder ter tão entranhado na minha existência esse ser de luz que, para minha honra, quase dois anos chegou a me ter guardada em seu coração. Essa época de sonhos, de mágica, prá mim acabou. Anjos devem espalhar seu amor pelo maior número de almas antes de retornarem ao seu lugar, não podem olvidar seu destino e destinarem sua afeição por muito tempo a apenas uma pessoa, por isso seu amor é tão grande e tão breve...
A mim, criatura pequena e imperfeita, meu anjo continuará existindo entre as mais lindas lembranças do passado e nos mais pretensiosos e belos desejos para o futuro. No presente, ele estará apenas em minhas preces mais ardentes e puras, em que rogarei a Deus que, se impossível a felicidade de ter de novo o que perdi, que me conceda, por misericórdia, apenas mais uma graça: a de algum dia poder abrigar e ser abrigada no coração não mais um anjo, mas de um outro ser, imperfeito como eu, conformado com sua existência neste mundo de dor e justamente por isso, tão intenso e tão constante no seu amor como eu fui.

02 maio 2007

Reencontro Imaginado

-Porque que eu nunca consigo conversar direito com vc? Vc fica estranho, vc tá estranho, fica todo cuidadoso, defensivo, cheio de dedos...pq não continua falando todas as besteiras que vc sempre falou?

-Eu não tô estranho, não sei pq vc continua achando isso...só as coisas é que são diferentes, e eu mudei muito depois daquela época.

- Eu sei, mas é que eu acho que tem uma parte da gente que não muda, e eu não consigo me desfazer da imagem que eu guardo de vc...

- É por isso que eu fico na defensiva...

_ Mas pq? O que eu lembro de vc é tão legal, divertido! Lembro de vc dando opiniões que me matavam de vergonha, fazendo coisas que exigiam toda a minha condescendência e compreensão e tomando decisões erradas uma atrás da outra!

- É? E o que isso tem de legal e divertido?

_ Tudo! Vc fazia as maiores besterias do mundo, eu ficava brava na hora, te dava uma bronca e no final acabava achando graça de tudo...como se vc fosse uma criança, e agora, eu só acho graça de tudo...vc continua uma criança na minha memória. Só que agora vc parece uma criança triste...

- E vc não me acha melhor agora? Vc sempre gostou da tristeza, cultivava a sua como se fosse sua própria personalidade: a alegria de ser triste! Parecia ter o pensamento distante mesmo quando ria, ficava mais triste cada vez que conseguia alguma coisa que deveria te deixar feliz...vivia dizendo que a tristeza tem uma beleza singular, meio romântica, que combinava com vc...

_ E vc que não dava ouvidos à nada do que eu dizia, foi prestar atenção justamente nas piores coisas que eu falava? Eu era idiota, só precisava de antidepressivos, cultivar a tristeza é burrice, eu era burra, só isso...

_ É, isso explica por que vc namorou comigo...

_ É claro! Vc não viu que foi só eu começar a tratar da depressão que eu desencanei de vc rapidinho (RS)? É claro que vc deu uma ajudinha...

_ Tá vendo, eu sabia que vc ia falar disso!

_ Eu quero falar disso, mas não do jeito que vc fica pensando! Já não tenho raiva de vc a muito tempo, o último restinho já foi embora...vc sabe como eu sou exagerada, quando eu comecei a te odiar eu te odiei tanto, mas tanto, que passou! Não sobrou nem mais um pouquinho de raiva de vc, só sobraram as risadas de quando eu lembro de vc fazendo bagunça, como uma criança arteira...aí eu tenho saudade de vc.

_ Eu não sei o que te falar...também tenho saudade de vc, mas sei que eu não posso ter. É muito difícil.

_ Mas não poderia ser mais fácil? A gente sempre conseguia lidar com as coisas mais absurdas, porque não conseguimos lidar com isso? Porque que a única forma de te ter na minha vida foi aquela? Porque não esta: vc aprendeu com os erros, se tornou uma pessoa melhor, seguiu em frente; eu parei de me machucar, me tornei uma pessoa feliz e também segui em frente e nós nos tornamos amigos! Somos importantes um pro outro! Não devemos tentar esquecer, temos que lembrar e fazer novas lembranças!

_ Não dá prá viver o passado, e vc nem era feliz naquela época...

_ Mas não dá prá viver o presente?

22 novembro 2006

Amor Possível

No ano passado conheci um rapaz que me interessou no instante em que nós nos vimos. Ao conhecê-lo melhor percebi que ele era bem diferente de mim em vários aspectos e fiquei em dúvida se seria possível alguma coisa entre nós, me parecia que acreditar nas diferenças seria como apostar em algo que pode dar muito certo ou muito errado e não soube imediatamente o que fazer ou o que pensar. Assim, algum tempo depois minha surpresa com sua singularidade foi tanta que decidi que não poderia perder a chance de me relacionar mais intimamente com alguém tão diferente de todo mundo. Diferente em tantas coisas porque autêntico, sereno e seguro e sabendo me tirar da rotina e me dar toda a liberdade que eu precisava. Depois disso foi rápido, fui percebendo que ele tinha tantas coisas que me agradavam e que eu nem sabia que gostava que me apaixonar por ele era simplesmente tudo o que eu desejava naquele momento. Quem me conhece sabe o que eu penso sobre monogamia e sinceridade (que fidelidade envolve muito mais a segunda palavra do que a primeira), assim, combinamos que nunca mentiríamos um pro outro e estou certa de que isso nunca aconteceu. Nos demos toda a liberdade que só quem confia e acredita pode dar, e nosso relacionamento sempre foi sólido o suficiente para não precisar haver ciúmes ou mesmo excluir de nossas vidas qualquer pessoa que por acasopor elas passasse, "laissez faire, laissez passer...". Me senti tão feliz e confortável ao lado dele que achei que não haveria problema em viver algo passageiro com outras pessoas, como com um rapaz que eu havia conhecido numa breve separação e que tb me pareceu interessante, é claro que não a ponto de me fazer abandonar o namoro mais sincero e tranquilo que eu já havia vivido. Então, continuei apaixonada pelo meu namorado e com sua ciência e consentimento, me encontrava umas poucas com esse outro rapaz, principalmente quando eu não podia tê-lo por perto, por ocasião de algum compromisso ou viagem, de maneira que ninguém me convenceria que eu pudesse viver algo melhor do eu estava vivendo então. Numa noite tranquilamente meu namorado me disse que estava um pouco preocupado com os rumos que meus encontros, especificamente com aquele outro rapaz, poderiam tomar; não que ele estivesse com ciúmes ou que se importasse que eu tb ficasse com outras pessoas, apenas porque ele não queria me perder. Naquele momento eu olhei prá ele e percebi que não havia ninguém que eu conhecesse, nem que eu tivesse amado mais, ninguém, que fizesse eu trocar o pouco que havíamos vivido, tanta leveza e sinceridade, por qualquer coisa que eu conhecesse, e lhe disse isso. Disse também que impossível não era, mas que essa possibilidade naquele momento era algo tão remoto como a idéia de que um de nós dois iríamos conhecer uma espécie de alma gêmea: alguém que simplesmente aparece e faz com que nada mais tenha sentido, nem valor e que simplesmente nos arrebatasse num sentimento inevitávelpara uma insanidade relativa, numa ânsia incontrolável de viver com determinada pessoa algo que seria ao mesmo tempo uma benção de Deus e uma fatalidade do destino. Acho que sorri quando disse isso, sorri por essas coisas não existirem, nem nenhum sentimento platônico irrealizável ou fantástico que iludiria duas pessoas tão desiludidas com como eu e ele a ponto de nos fazer abandonar o que nos trazia tanta compreensão, tranquilidade e confiança de uma forma tão concreta por algo tão incerto e efêmero. Até porque se algo assim existisse, nem uma promessa, pacto ou compromisso de fidelidade e monogamia poderia mudar a ordem das coisas e fazer com que ele se sentisse mais seguro. Assim, nos tranquilizamos e esquecemos do assunto até pouco tempo depois, quando ele deixou de ser meu namorado, substituído pelo rapaz que havia motivado a conversa.

27 setembro 2006

A Mulher do Mágico


- Como é que vc conseguiu fazer isso? Vc tem idéia do quanto é difícil?! Vc é mágico ou alguma coisa assim? (rs)
- (Sorriso) É que eu sempre acreditei que a mágica vai mais do talento do mágico do que do tamanho da vara (rs)
- É que vc não me contou que fazia mágica antes! E olha que de forma alguma eu estou desprezando o instrumento da mágica, mas vc é realmente um mágico muito talentoso, podia trabalhar com isso!
- Hum, difícil, hein? É preciso mais que talento prá fazer mágica toda hora....mas me senti lisonjeado vindo de vc, com tanta experiência no assunto...
- Ou falta dela, né? Porque é preciso ver muita vara por aí antes de ver alguém que saiba fazer alguma coisa com ela. Mágico mesmo tem muito pouco, a maior parte é só ilusionista...
- Se vc está dizendo...desse assunto eu não entendo muito (rs)
- Eu entendo, e tenho muita sorte de ter achado um mágico só prá mim! A solteirice me fez pensar que esse ofício havia se extinguido...
- E quem falou que eu sou só seu? Vc não acha que é um desperdício alguém com todo esse talento ficar se apresentando prá uma pessoa só?
- Até acho! Aceito mais gente na platéia, desde que a qualidade da mágica continue a mesma...
- É, prá quem assiste é fácil falar isso, né? Mas por enquanto não tem ninguém não, vc bem que podia fazer propaganda, quem sabe eu não me torno bígamo tb?
- Não sei não, hein. Aguentar homem é mais fácil do que aguentar mulher...imagine duas de mim, não seria qualquer um que conseguiria agradar uma platéia tão exigente, além do mais, acho que vou dar um tempo na poligamia...
- Ah, vc? Faz de conta que eu acredito! Vc praticamente namora eu e o outro, e ainda tem tempo de arrumar uns rolos por fora, duvido! Isso é só xaveco!
- Não, é verdade! Eu estou pensando seriamente nisso...
- Sei...
- Não que eu tenha me cansado...
- É claro, vc não cansa...
- É que tem outra coisa...é foda, é melhor nem falar...
-O que! Vc com vergonha de falar alguma coisa? Pensei que vc não tivesse isso?!
- Acho que vou terminar com o outro...na verdade já está meio terminado, eu só tenho que persistir...
- Por que? Ele é tão legal! É claro não é deste planeta, mas ele é uma pessoa legal, deixa até que vc saia dia-sim, dia-não comigo, mesmo namorando com ele, não é mesmo? Quem é que permitiria isso?
- Eu sei, por isso eu tenho quase certeza de que vou me ferrar! Não se larga alguém assim...
- Arrumou outra pessoa? Algum desses caras que vc fica de vez em quando? Veja lá o que vc vai fazer, não vai me arrumar um namorado ciumento logo agora que está tão bom!
- Vc acha?
- Claro! Quer dizer, a gente se diverte junto, não tem compromisso um com o outro, cobrança, nem nada dessas coisas e só ficamos junto porque gostamos. Sabe, faz tempo que eu não namoro, até um tempo atrás eu pensava que precisava achar alguém, prá ficar só comigo, eu estava muito sozinho, que queria uma namorada, alguém com quem eu tivesse algo mais sério, e todas aquelas besteiras que uma pessoa carente quer de um namoro normal... mas vc sabe, é sempre a mesma coisa: a gente só quer o que não tem, logo que alguém começava a gostar mais de mim eu não conseguia mais ficar com ela...é que é muito ruim ver que alguém quer mais do que vc pode dar, achava que não era a hora e perdia o interesse. E também eu conheci vc que me mostrou o quanto ficar com uma pessoa só não tem sentido! Não tem porque haver ciúmes, compromisso, nem renúncia às outras pessoas prá se divertir por algum tempo com alguém. Me sinto muito mais à vontade por que eu sei que vc não espera nada de mim e nem eu de vc, porque afinal já tem tanta gente na sua vida mesmo, e eu vi que é bem melhor assim, saber que se amanhã eu arrumar outra ou vice-versa, a amizade e a sacanagem continuarão as mesmas.
- Eu te fiz pensar assim? Tudo só porque eu nunca te dei exclusividade?
- Ah, não só vc, né?! Eeu te falei que desde que eu parei de namorar e comecei a procurar coisas mais "modernas" eu praticamente nunca mais vi uma mulher "normal", quero dizer: completamente hétero, monogâmica, que queira compromissso, etc., na verdade até passei a achar que o normal é o inverso. O negócio é que vc faz tudo isso e ainda namora, e seus namorados aceitam. Não sei se eu conseguiria namorar hoje em dia, mas graças a vc eu acho que concentrar em uma só pessoa é algo completamente irrelevante e sem sentido, não acha? Mas fala aí, o que vc aprontou dessa vez? Porque vc vai se ferrar?
(Silêncio)
- Vai, fala aí!
- Bem, é que eu acho que...eu amo vc.
(Silêncio de novo)
- Eu não sei o que dizer...acho que eu não direito, ou vc não entendeu direito...
- Entendi, é claro que entendi! Não é prá vc falar nada. Não quero que vc fale nada, não quero que vc faça nada. Eu sei o que o seu silêncio significa, e eu sei o que está acontecendo, só isso. Vc não precisa me dizer nada, nem fazer nada, eu só precisava falar isso antes que vc percebesse sozinho e fosse embora e aí sim eu pudesse entender tudo errado. Não quero nada porque não adianta querer mesmo, eu te amo e eu não sou muito de gostar assim das pessoas, então estou feliz por estar assim. Achei que isso não aconteceria mais, mas...a gente nunca sabe o que vai acontecer...Afinal, já é muito difícil gostar de alguém, querer que essa pessoa goste de vc tb e além disso que tudo dê certo é contar muito com a sorte e eu não conto...Desencana, pode deitar perto de mim de novo porque eu não vou te arrancar pedaço, nem ficar te melando muito, não...quer dizer, a menos que vc queira...eu tb sei fazer minhas mágicas.
(Ouvi dizer que foi nesse dia que o mágico se apaixonou)

25 setembro 2006

Ao Maior Amor Menor


_Oi, tudo bom? Que saudade! Faz um bom tempo que a gente não se vê, não é? Você não pode sumir assim, eu sinto a sua falta! Eu sei, eu sei, nossa vida tá meio corrida mesmo, muito trabalho, pouco dinheiro, mas se nós não pudermos ver os amigos de vez em quando, prá que tanta correria?(rs). Então, eu tenho pensado tanto em você, assim, de repente eu lembro de você e um monte de coisas que eu queria te falar...não, não precisa se assustar não, são coisas boas, seu bobo! Porque sempre que eu digo que queria falar com você, você entra na defensiva, quase cobrindo a cabeça achando que vai chover pedra! (Rs) Ah, esses dias, por exemplo, liguei umas duas vezes pro seu celular prá vc ir na minha casa no feriado, e nada de te achar! Foi um monte de gente lá, amigos novos, velhos, e tinha todos os meus namorados lá, só faltou vc. Todos mesmo, e convivendo em harmonia, aí eu me lembrei de vc...lembra quando nós estávamos namorando a cerca de um ano e vc não suportava meu ex, não suportava o nome dele, nem nada que lembrasse ele, e tinha aquelas brigas horríveis comigo (é claro que vc tinha os seus motivos, eu tb por outro lado tinha os meus motivos prá não querer me afastar dele...) mas, continuando, lembra que de repente ele resolveu fazer um churrasco na casa dele, todos os meus amigos iam, e ele resolveu me chamar e eu fui toda cheia de dedos atrás de vc sondar se eu poderia ir na festa? Aí, quando eu falo prá vc, vc me pergunta se poderia ir comigo, assim, de boa, sem transparecer ciúmes, nem malícia, como um namorado que só queria acompanhar sua menina numa festa, prá conhecer mais pessoas, se divertir...na hora eu fiquei com medo! Vc só podia estar blefando, eu tinha quase certeza que vc ia chegar lá e fazer algum escândalo, arrumar briga, me matar de vergonha e acabar de vez com a minha vida social! Então voltava a minha consciência: e se vc estivesse inocente e só quisesse ir na festa comigo, conhecer melhor os meus amigos e o eventual causador de antigos desentendimentos? E se não houvesse malícia nenhuma no seu pedido e eu te negasse o benefício da dúvida, como eu poderia pedir para que vc acreditasse em mim quando algo semelhante acontecesse comigo? Eu só conseguia lembrar do Machado de Assis no Dom Casmurro, citando um trecho da Bíblia que eu ainda não consegui achar, que era mais ou menos assim: "não duvides da sua mulher para que depois ela não venha a te enganar com a malícia que aprendeste contigo", conhece? Então, antes fui perguntar para o dono da casa se estava tudo bem e ele, um tanto cauteloso outro tanto irônico, comentou: "claro, tudo bem, vc assume as consequências?". Bem, assumi, e vc não sabe o quanto fiquei orgulhosa de vc naquele dia! Vc foi lá, conversou com todo mundo, ficou comigo, tocou violão, e apesar de ter sido bastante sociável, foi discreto e educado, parecia não se incomodar que eu tivesse tido vida antes de vc, ao contrário, parecia que vc queria fazer parte dela...só de lembrar, me dá até um pouco de vontade de chorar, assim, de alegria. Eu fiquei tão feliz, tão orgulhosa de vc estar ali, seguro, tranquilo e ao mesmo tempo sendo meu namorado! Logo esqueci de todas as brigas que nós tivemos por causa do meu passado, meus amigos, ex-namorados, só conseguia pensar no quanto eu estava feliz em finalmente estar com alguém que me respeitava e me amava, como vc! É verdade! Desse modo eu posso te dizer que fui muito feliz com vc...eu sei, vc deixou muito triste tb, mas vc bem sabe que naquela época eu não precisava de ajuda que ninguém prá me sentir a pessoa mais infeliz do mundo, porque eu sabia muito bem ficar triste sozinha! (rs). E sabe, era isso que eu queria te dizer: foi bom prá mim vc ter sido como foi, mesmo quando vc era chato, ciumento, mentiroso e sem-vergonha, porque mesmo quando vc fazia as coisas mais absurdas vc me ajudava. Pensa bem: logo no começo vc percebeu que eu tinha mais coisas com meu ex do que eu falava (e olha que eu falava), e não era porque eu aprontava não, é que faltava dizer alguma coisa sobre isso que nem eu mesma sabia, e é claro que percebendo que tinha algo escondido vc achou que eu estava mentindo ou te enrolando e teve motivos prá ser ciumento, e desconfiar da minha amizade com ele. Tá certo que vc passou da conta e ficou infernizando minha vida dia e noite por um ano, mas aquilo me fez perceber que eu deveria pensar mais sobre o que eu realmente queria e lutar por isso. Por outro lado, nessa época de desconfiança e tensão nós passamos por coisas que eu jamais pensei que aceitaria na minha vida, e se quase destruiu minha auto-estima de vez, tb me fez acordar prá vida e voltar à realidade, vendo que a vida que eu levava até então não era a minha, nem com vc nem com ele, além do que vc me trazia tantos problemas que não dava tempo nem de pensar em desistir, eu tinha que arrumar uma jeito de sair daquele inferno antes disso, e nós conseguimos, não foi? Eu permaneci viva e o nosso namoro tb. Comecei aprendendo com o seu perdão. Faço idéia do quanto deve ter custado prá vc, sendo uma pessoa tão orgulhosa ter sido enganado e ter tido coragem o suficiente prá deixar isso prá trás. Com o seu exemplo, continuei te perdoando por tantas coisas que vc ignorava e que me faziam sofrer, mas que infelizmente te fariam muito mais. Tentei te recompensar pelo meu modo descuidado, multiplicando os cuidados, a paciência e a compreensão que eu tinha com vc, e acho que até não me sai tão mal pq eu vi a cada dia o quanto vc se esforçava para se tornar uma pessoa melhor, mais aberta, sensata e tolerante, ao mesmo tempo em que direcionava sua impulsividade para me alegrar, me amar, me surpreender, ninguém me trouxe tantas surpresas quanto vc! Me alegrava com a sua disposição para mudar, fazer tudo diferente e melhor, me compreender...se entristecia quando via eu me afundando em tanta tristeza imotivada (e deve ter temido me trazer mais tristeza com algum fundamento...) e me fazia repensar se tanta melancolia valeria a dor de te ver se entristecendo pela minha dor! Como eu posso te culpar se, no final, tudo o que veio de vc me trouxe tanto bem, e até o que parecia ser um mal para mim só se revelou um mal para vc? Não tenha vergonha, nem receio, nem arrependimento, eu sei de tudo o que vc foi prá mim e te contarei um segredo: do que ainda é, e sempre será: meu maior amor menor, de sentimentos tão fortes, sublimes ou cruéis, mas nunca indiferentes. De todos os erros, de todas as mentiras e enganos, não foi a mágoa que sobrou, foram os dias que vc tocava prá mim, ou que eu cantava prá vc dormir, foi o dia em que eu conheci o perdão, e soube que ele era o verdadeiro amor, é o homem melhor que vc se torna a cada dia e que eu tenho a pretensão de achar que eu ajudei a formar, é a pessoa mais amorosa, paciente e compreensiva que eu me tornei, porque vc me amou de verdade e me perdoou e me fez o mais feliz que eu poderia ter sido na infelicidade que eu havia escolhido para mim. Te amo, ternamente, como só ama quem recebeu o amor. Te desejo, frequentemente, como só deseja quem sabe que foi tão desejado. Te respeito, profundamente, como quem sabe que o respeito é sempre conquistado. Te recordo, carinhosamente, como quem recupera o melhor do que parecia perdido. Te perdôo, sinceramente, como só perdôa quem já foi abençoado com o perdão. Na verdade não há nada que eu possa te dar, porque tudo me deste primeiro, apenas te devolvo. Te amarei, e para sempre, porque o seu amor me tornou alguém que pode ser amada, por saber demonstrar amor; desejada, por saber desejar; respeitada, por não mais se esquecer de respeitar; lembrada, por não esquecer do que nunca deve ser esquecido; e perdoada, porque aprendi a guardar a melhor parte do que sempre foi grandioso, mesmo quando pareceu pequeno.

05 agosto 2006

Big Nose Strikes Again

Seu nariz era um pouco maior do que o normal, o que ajudava a tornar sua aparência ainda mais peculiar. Lembro que passei um bom tempo tentando concluir se ele era feio ou bonito e não cheguei a lugar nenhum. De acordo com os padrões estéticos correntes não se poderia dizer que ele era exatamente bonito, ao mesmo tempo eu não conseguia achá-lo feio, mas também não conseguia ter certeza. Dava prá ver pelo seu rosto que ele era todo magrinho, aparentemente tímido e desajeitado, meio mauricinho, meio grunge, o cabelo britpop, lisinho caído um pouco acima do ombro, e tinha o nariz que, junto com o seu olhos que levantavam e abaixavam toda hora, dava-lhe um ar de alguém ciente de todas aquelas observações. Nova dúvida: seria ele um desses rapazes bonzinhos por saber-se não tão bonito assim ou seria o contrário e permitiria ele essa imagem inofensiva de menino bonzinho e feinho justamente por saber que não era nenhuma das duas coisas? Ele estava um pouco inquieto, podia não ser tão inofensivo assim. Enquanto eu conversava com um amigo em comum ele fingia que participava da nossa conversa mas de vez em quando me atirava uns olhares tão diretos que eu ficava desconcertada. Percebendo isso ele parava e olhava pro nada como se fosse um autista e a minha presença fosse o acontecimento mais irrelevante do mundo. Pensaria ele a mesma coisa? Um bom moço, sem dúvida, talvez menos por opção do que por falta dela. Tinha uma leve tensão em seus atos e na observação das coisas ao seu redor com aparente indiferença, o que me fez pensar na ocultação de um significativo potencial para a perversão. Convencionalmente ele não era bonito, mas eu não conseguia achá-lo feio, na verdade se eu o observava a tanto tempo era porque gostava de alguma coisa, mas do quê? Eu nunca tive um gosto estético convencional, mas não negava suas conveniências. Ao mesmo tempo em que analisava esse desconhecido eu flertava com mais dois rapazes que se movimentavam pelo bar, esses sim de uma beleza bem convencional, e hora ou outra me colocavam em dúvida se eu deveria abandonar aquela mesa e seus ocupantes e tentar algo que impressionaria minhas amigas e elevaria minha auto-estima imediatamente, motivo mais que justo frente aos meus recentes insucessos sentimentais. Entretanto, por mais que eu desejasse, não conseguia acreditar que algum daqueles belos jovens pudessem me entreter mais que algumas horas e novamente a incerteza se no momento seria o suficiente ou se desejar mais daquela noite ou do sexo oposto seria um ingênuo auto-engano. O rapaz sentado à minha mesa continuava ali, até aquele instante ignorado pela minoria feminina do bar. Discreto, eu mal tinha ouvido sua voz e ainda mantinha a impressão de que se tratava de uma pessoa tímida, e nunca substimei as habilidades amorosas de alguém tão displicente com o marketing pessoal. Podia apostar que se o levasse até um local mais reservado e fosse bem safada sua timidez desapareceria. Conseguia imaginar milhares de formas de desvirtuar aquele rostinho de bom moço incorrompido e todas pareciam me interessar. Morri de medo de que ele abrisse a boca e se revelasse bobo, chato ou burro, já que o meu espírito crítico preservava pouquíssimas pessoas, e relegava todas as outras a um relacionamento superficial, condescendente ou vertical, obrigando-me a uma longa e conformada solidão espiritual. Quando o som da sua boca ressoou nos meu olvidos, no entanto, revelou uma voz grave e gostosa, capaz de discorrer sobre banalidades de forma inteligente e agradável como não me acostumara em ocasiões como aquela. Com a banda de rock tocando tão perto, ele tinha que praticamente grudar seus lábios à minha orelha e, cautelosamente, equilibrar-se entre o grito e o sussuro para que pudesse ser ouvido sem me deixar surda, cuidado que eu igualmente tomava e com muito mais freqüência, já que mais prolixa e interessada no assunto do que ele. Enquanto falava, com seu timbre de voz destoante da carinha de menino, imaginei-o falando obcenidades, bem baixinho, ali em público, ou aos berros, só prá mim, em particular. Mesmo não podendo acompanhar minha imaginação, a todo momento eu era atraída à realidade por alguma coisa que ele falava e quando começou a falar qualquer coisa sobre os Smiths eu pensei que até se ele fosse gay seria de longe o homem mais interresante daquele bar. Descobri que havíamos nos formado na mesma época, estudado a mesma coisa e tínhamos a mesma profissão, com uma visão sobre as coisas ao mesmo tempo parecida e diferente e que, com certeza, ele achava que conseguiria o que quisesse de mim. Presunção típica de homens mais velhos (condição que eu lhe conferia mesmo com os poucos anos de diferença já que eu não costumava me envolver sequer com alguém com a mesma idade que a minha) mas que, dessa vez, me soava engraçada: ele não tinha a menor noção de onde estava se metendo e que provavelmente obteria de mim o oposto do que desejava e aí, já seria tarde demais prá mudar de idéia. Quando ele me beijou naquele momento, pensei que poderia ficar com alguém assim o resto da minha vida, e tenho estado certa disso.

20 junho 2006

Luz vermelha

Eu o vi. Estava no trânsito olhando a luz vermelha e vi um rapaz andando pela calçada do outro lado da avenida. cabeça erguida, cabelos muito mais claros do que eu permitiria. Havia me esquecido de como ele era. Não por completo, mas as partes, as partes sempre somem. é estranho ver algo ao qual a visão já esteve tão acostumada e que agora os olhos demoram a reconhecer. Me senti avistando uma casa na qual eu não mais morava. Pensando: como serão as pessoas que moram lá agora? Como será que usaram o espaço que havia lá dentro? Será que dentro dela alguém perceberá que eu já morei ali? Algo de mim permanecerá na casa, assim como a casa permaneceu em mim? A luz vermelha se apagou. O tempo sempre passa, mesmo quando não se percebe. Ele vai seguindo seu caminho, indo por onde eu vi, nem notou minha presença. Quem o vê com a cabeça erguida assim, pela rua, pode pensar que ali está uma casa que nunca foi habitada e talvez tenha razão.

25 maio 2006

Proposta indecente

ANTECEDENTES:
Cerca de um ano atrás um conhecido com quem eu já havia ficado no início da minha adolescência, veio me fazer um convite no mínimo estranho: sob a alegação de que teria perdido uma aposta e que por isso precisaria tirar uma foto pelado (não sei bem em que condições), pediu , não sem relativo embaraço, para que eu atuasse de fotógrafa nessa empreitada. Apesar de, à primeira vista tal proposta não me despertar muito interesse, considerei que nenhum grande mal poderia advir desse ato, ao contrário, poderia resultar em uma experiência inusitada mas cômica, dessas que, de tão absurda, mereceria ser vivida. Apesar de não possor outros interesses além do ridículo e da fotografia, vale lermbrar que ambos éramos + ou - solteiros à época. Sem conseguir concretizar algo mais do que algumas conversas e muita expectativa, meu amigo aparentimente havia esquecido da idéia, até que algumas semanas atrás, sem qualquer motivação aparente e, esquecendo-se do alteração contextual, enviou-me no meio de um expediente a seguinte mensagem, que originou no diálogo que se seguirá, aqui transcrito apenas pelo meu amor às situações embarassosas:
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"Oi, tudo blz???




Seu irmão te falou que não deu pra eu ir na sua festa ne??? e te mandei um bjao por ele, bom na verdade estou enviando este e-mail, vc lembra daquelas fotos da aposta, bom a mina ja desencanou, mas esses dias eu tava pensando e me veio na cabeça vc, eu tava maior afim de fazer fotos de zueira sem monstrar o rosto ta ligada so pra zuar mesmo e acho vc seria ideal logico que jamais alguem saberia e vc ficaria com copias das fotos, primeiro que eu curto vc pacaraio, e tipo vc nao ta nem ai com os outros e com todo o respeito vc eh uma delicia, e eu acho que seria legal ia rolar alteas risadas pensa e depois me fala espero que vc não fique no estresse comigo

Bjao"





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RESPOSTA:


"Meu Amigo,



Você num toma jeito mesmo, hein?



É claro que eu não me importo de fazer essas coisas, eu mesmo já tirei umas fotos assim de uns namorados meus e vice-versa, só que acabei num guardando nada...ainda não entendo de computador o suficiente prá confiar que o lugar guardado seja totalmente seguro, então eu só dou risada e depois apago (até porque não tenho câmera ainda e quando fiz isso tive que pedir emprestado...) mas então, tem só dois problemas como eu já te disse anteriormente, quer dizer três:

1)Bem, eu acharia super-engraçado tirar as fotos, mas é o seguinte: eu até tenho um relacionamento mais liberal, só que no momento eu não estou com vontade nenhuma de ficar com outra pessoa além do meu namorado, o que certamente inclui vc, eu sei que vc vai falar que "não, não tem nada a ver" mas que na hora vai ficar me xavecando, tentando me fazer mudar de opinião, só que eu sou chata e não mudo, então eu vou ficar puta com vc e aí vai acabar a brincadeira...entendeu? (EU NÃO VOU DAR PRÁ VC)

2)Então, eu já falei, vc não acredita, mas EU CONTO TUDO O QUE ACONTECE PRO MEU NAMORADO, tudo mesmo, e com certeza vou contar isso tb prá ele, aí nós teremos o seguinte diálogo:

(ele): "Mas porque ele quer que vc tire fotos dele pelado? Porque ele não fala prá mina dele fazer isso?

(eu): "Sabe, meu amor, é que não é todo mundo que tem uma namorada legal e liberal igual vc, então ele tem vontade de zuar um pouco, só que não consegue fazer essas coisas com a namorada dele e como eu sou uma das poucas pessoas que ele conhece que topa essas coisas, e nós já ficamos, ele pensou em mim"

(ele): "Mas que bizarro! Sei lá, vc quem sabe, se tiver a fim, vai lá, mas pq vc quer tirar foto dele pelado?"

(eu): "Ah, justamente pq seria muito engraçado e bizarro, apesar de contrangedor tb..."

(ele) "Ah, mas ele deve estar só é querendo te comer...vc quer dar prá ele? Por que se vc quiser é uma coisa, se não quiser vc só vai ficar constrangida e passar nervoso pq com certeza ele vai usar isso prá querer te comer"

(eu) "É mesmo, né...mas se bem que se eu estivesse bem louca eu só ia achar graça"

(ele) "E ele ia ficar mais insistente achando que ia ser mais fácil te convencer"

(eu) "É mesmo, né? Então não sei se é bem uma boa idéia...e se a gente conversasse com ele prá ver o que que ele acha e o que ele quer mesmo? Fale com ele então"

RESULTADO: De boa, ou ele vai conversar com vc ou vai pedir prá eu pedir prá vc falar com ele...VC ESTÁ A FIM DE EXPLICAR SUAS RAZÕES PRÁ ELE?

3) Superados esses obstáculos, haveriam 2 problemas, um comigo e outro com vc: se essa história vaza, será que a sua namorada seria tão compreensiva com vc quanto o meu namorado pode ser comigo? E eu, como eu vou me sentir com ela sabendo que vc fez essas coisas sem o consentimento dela, o que eu considero fundamental...e mesmo se ela não souber, vc continuará enganando-a do mesmo jeito e eu saberei disso...SERÁ QUE É ISSO MESMO QUE VC QUER?

Bem, pense melhor e me responda depois.


Beijos
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CONTRA-RESPOSTA

"Caralho acho que vou dar um tiro na minha cabeça ...rsss"

19 outubro 2005

Bencsik´s Chest

_Você não me olhava desse jeito, olhando nos olhos, quando me conheceu!

_Eu não tinha porque te olhar assim...procurava olhar outras coisas...

_ E o que vc via?

_Só uma parte do que vejo agora...
E o que vejo agora?



Os olhos se fechando
Os olhos se abrindo
O corpo inerte
Os olhos, nunca
Nem quando veêm o nada,
Inacessíveis ao óbvio
Tornando o etéreo possível
Um olhar que nunca é raso.
Sua casa.
Cortinas gastas filtrando a luz do quarto
Muito quarto, poucos móveis
Alguém arrancando da janela as cortinas e grades
Iluminando o quarto com significados
Maculando o branco com vida
Pulando a janela e se deitando sob o céu
Olhando o vazio
A noite clara
Nuvens e estrelas,
Todas feitas prá você!
E planetas e galáxias não vistas, só por você!
E milhões de anos de fogo: esperando por vc!
E estrelas virando vida, prá vc!
A noite escondendo o ladrão, só por vc!
Imprescritos remédios nas ruas, todos prá vc!
Uma garota pelos bares (procurando, sem saber, por vc!)
E chances perdidas que se encontram, por causa de vc!
E raios dourados pelo chão,
E por horas e horas infindas,
Nada mais será escuro
Por vc.

04 outubro 2005

DUAS CANÇÕES

2
FAKE PLASTIC TREES
(Final de 2003)
_Porque ninguém toca as músicas que eu gosto prá mim?
_Porque vc só gosta de coisas estranhas e tristes que ninguém mais gosta! Quem é que vai querer ouvir e tocar Radiohead, Portishead e todos esses 'heads' que só alguém que vai se matar escuta? E aí não perde tempo tentando aprender a tocar...ninguém além do meu amor...
_ Vc bem que podia tocar uma dessas músicas prá mim, né? Tem que ter alguma vantagem de ter um namorado músico, já que as desvantagens são tantas...
_ Que desvantagens, meu amor? Todas podem querer mais eu sou só seu!
_(Riso) Não vou nem fingir que acredito...mas vc bem que podia tirar umas músicas e tocar só prá mim...
_Meu amor, se vc quer tanto isso, pq vc mesma não aprende?
_Ah, eu já estou velha, não se aprende mais nada depois dos vinte anos e se eu fosse aprender a tocar instrumento de cada músico que eu ficasse...
_Sei...vc ia montar uma orquestra sozinha, né? (Me mordendo) Não vou nem pensar nisso...
_Como vc é bobo...uma orquestra, não, mas uma banda de rock...
(1 mês depois)
_Vc tem que sair do quarto!
_Por que?!
_Porque é surpresa! É que a minha surpresa tem que ser preparada...
_Tá bom! Tá bom! Mas não demora muito que eu sou curioso!
_Eu sei! Tchau!
(Onde eu ligo isso? Não pode fazer barulho ainda...vou deixar como se eu não tivesse mexido....)
_Pode entrar!
_Cadê a surpresa?!
_Ainda não está pronta! Vire de costas!
_Ai meu Deus! Como eu tenho que ter paciência com essa menina!
_Feche os olhos e escute...:
A Bm
"Her green plastic watering can...
(...)
"She look like a real thing, she taste like a real thing, my fake plastic love,
But I can help the feeling, I can blow throght the ceeling, if I just turn e run
It wears me out, it wears me out, it wears me out...
If I could be
who you wanted
all the time...all the time....
_Como vc aprendeu a tocar?
_Sozinha.
_Por que?
_Porque eu queria te fazer uma surpresa...gostou?
_Gostei...eu te amo.
MY IMORTAL
(1 ano e meio depois)
_Sabe, as vezes eu nem acredito no quanto de raiva e mágoa eu guardo de vc... mas não preocupa, não, um dia vai passar...tudo o que aconteceu com a gente... teve tanto amor, como não haveria tanta mágoa? Mas vem cá, eu quero te mostrar uma música...senta aí, faz tempo que eu não te vejo, mas esses dias eu a ouvi e pensei em vc, então resolvi tocá-la prá vc...
A C#m
"I´m so tired of being here, suppressed by all my childhood fears,
And if you have to leave, I wish that you just leave...
(...)
When you cried, I´d wipe away all yours tears,
When you´d scream, I´d fight away all of your fears,
I held your hand throught all of these years
But you still have...
All of me"
_Vai, ele está te esperando.
(um beijo na minha testa)
(um sentimento de que nada pode ser em vão)

25 setembro 2005

Sonhos das janelas abertas

A respiração pára.
No peito um aperto: algo urgente não foi feito,
Como a lembrança repentina de que todas as janelas da casa ficaram abertas.
Janelas sem grades.
Os músculos cardíacos tensamente relaxados.
Prá que voltar prá trás?
E se a casa for invadida?
Seja.
A lembrança urgente não cessa,
Algo sempre falta.
Só a saudade, agora, é do que existe.
Os olhos,
Ávidos por respostas que nunca serão dadas.
Eles sentem
O mesmo medo de ter deixado portas e janelas abertas...
(Intenção sincera de dizer que não tema)
(Vontade infinda de lhe dizer qualquer coisa)
(Desejo constante de ver a casa toda invadida)
A boca,
Os lábios talvez atravessem a carne?
O beijo parece beijar o espírito:
Diminui o aperto no coração...
(O ar infla os pulmões e o espírito cada vez mais rápido)
A pele,
Nenhuma sensação está mais sob controle,
Queria nunca mais saber o que é meu,
Queria saber desta dor que anestesia:
Ela existe em outro lugar?
Nenhum desejo é meior que este.
Janelas, portas, corpo e alma: abertos
Toda a casa já lhe pertence
Não há mais o que temer
(Amor)

22 setembro 2005

Nada me inspira agora...

4

Talvez
só a tristeza traga inspiração,
Alegria não inspira
Expira

05 setembro 2005

Fim do karma

3

_Alô? _Oi sou eu, vem me buscar! Vamos fazer alguma coisa hoje, estou te esperando. Daqui quanto tempo vc está aqui?
_15 minutos.
_ Está bom, estou te esperando, mocinha, beijo!
_Beijo.

(O que eu faço agora?)

1
_E aí, onde vc vai?
_Tenho que resolver umas coisas, daqui a pouco eu volto.

3
_Oi, que saudade!
_Oi...
_E aí, vamos lá prá festa?
_Então...não sei como te dizer isso...
_É só falar, ora!
_Lembra na primeira vez que nós ficamos?
_Lembro.
_Lembra que eu te falei que eu estava esperando uma pessoa, que iria voltar daí a um mês e que eu não sabia o que iria acontecer quando ele voltasse?
-Lembro, já faz uns três meses que vc me falou isso, ele nem veio...
_Veio hoje. Ele está na festa.
_ E daí, vc não quer voltar prá lá por causa disso?
_Não, muito pelo contrário.
_Então, vamos prá lá, vc conversa com ele e depois fica comigo.
_Vc não está entendendo...eu não sei o que eu vou fazer...
_O que? Vc quer conversar com ele sozinha? Vc quer ficar com ele e quer que eu simplesmente deixe?!
-Não sei se isto vai acontecer, mas é possível.
-Eu não acredito nisso, sabe, mas se é isso que vc quer, vai, vai e resolve isto de vez, porque eu estou começando a me sentir desrespeitado, eu sei que vc esteve com ele muito tempo, mas vc está comigo agora! Não pode ser assim. Eu queria ir, mas se vc não quer eu não vou , me deixe em casa, eu não quero sair, só quero que esta noite acabe logo e vc saiba logo o que vc quer. Tchau...Espere, eu gosto muito de vc..vc vai ficar comigo, eu sei..volte logo.

-----------------------------------------------------------------------------------------------
2

- Cadê seu namorado?
_Deixei ele em casa.
_Por que?
_ Vc viu quem está aqui?
_Ah, pode ter certeza que eu vi. E vc, vai começar a mentir agora? Já esqueceu o que aconteceu comigo? (irônico)
_Eu nunca vou esquecer o que vc fez comigo, e nem vou agir como vc. Ele sabe o que está acontecendo.
_E o que está acontecendo?
_Eu tenho uma história mal resolvida com ele...
_Só agora que vc percebeu isso?
_Não quero vc me falando o que eu devo ou não fazer, vc é a última pessoa , logo vc... sabe, tem horas que eu te odeio tanto! Eu nem sabia que eu podia odiar alguém tanto assim...mas agora eu quase não te odeio... as vezes eu acho que eu também não podia ter sido daquele jeito..tão triste. Vem cá, esses dias eu ouvi uma música no rádio, me lembrei de vc. senta aí, que eu vou tocá-la para vc...
MÚSICA/SILÊNCIO
(Ele me olha com ternura euma tristeza contida. Beija a minha testa respeitosamente e diz):
_ Vai lá, ele está te esperando.
(Abaixa os olhos)
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1
(Não é com ele que eu quero estar agora)
-------------------------------------------------------------------------------------
DIA SEGUINTE
3
_oi...
_Você está aqui! (Me abraçando) Que bom! O que a gente vai fazer hoje?
(Ele não me perguntou o que aconteceu!)
_Não sei, o que vc quiser...mas eu preciso te contar umas coisas...
_Eu sei o que vc vai me contar, não me importa, vc está comigo agora e é só isso que importa.

01 setembro 2005

Aula de Direito Civil

2° semestre de 2004
_"Talvez seja difícil explicar para uma sala de alunos num curso preparatório para concursos públicos, casos como esses em que o Código Civil trata situações tão arriscadas financeiramente para as partes...são negócios jurídicos que nenhum de nós realizaríamos e temos até certa dificuldade de entender. Isto porque quem busca uma carreira jurídica por meio de concurso público, e tenta ser juiz, promotor, procurador do Estado, etc., são pessoas conservadoras... são sim! Pessoas que querem carreiras públicas são conservadoras porque buscam estabilidade financeira e funcional, querem garantias, evolução na carreira segura e gradual...se nós fôssemos pessoas empreendedoras, inovadoras, que aceitam o risco como um fator que possibilita o crescimento profissional e financeiro, seríamos profissionais liberais, advogados. Nós não perderíamos tampo tempo, dinheiro e esforço em um curso preparatório, almejando status e estabilidade..."

31 agosto 2005

Diário 3


3
25 de fevereiro

(eu)_Alô?
_E aí?
_Oi...eu queria falar com vc...
_É mesmo? Vc foi embora, tô vendo South Park.
_É que eu queria ter falado com vc quando eu estava aí...Por que vc não conversou comigo?
_Sei lá, porque eu tava vendo Jack Ass.
_Eu precisava ter conversado com vc, de verdade...
_É mesmo?
(Silêncio)
_Porque vc não respondia quando eu falava com vc? Eu te chamei umas 4 vezes, fiquei olhando prá vc um tempão, parecia que vc não me via...
_É, eu tava vendo televisão.
_Porque vc não me respondeu? Eu estava a poucos metros de vc e vc fingia que não me escutava!
_Eu sou assim.
_Como vc é assim? ...foi a primeira vez que eu precisei de vc e vc fingiu que não me escutou te chamando e me deixou ir embora...?
_É, eu sou assim mesmo. Vão ter muitas vezes que eu vou fazer isto.
_Não comigo, comigo vc não vai mais não!
_É, então, tá, tchau.
(Desligou o telefone)

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maio


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(A tristeza já te surpreendeu no meio do dia com uma ausência quase absoluta de valores, do que seria certo fazer, se vc fosse uma pessoa boa? Tenho quase certeza de que serei injusta, serei injusta com a pessoa certa...eu sei, é que é difícil aceitar depois que já se foi justa com a pessoa errada...Não sei se essa tristeza é já um remorso pelo que eu farei, eu sei o que eu tenho que fazer, mas pq tanta dúvida? Ontem vc ficou em dúvida. Justamente agora que vc está começando algo novo eu apareço, como uma lembrança que ainda não ficou velha. Vc é tão simples! Tão harmonicamente compreensível na busca de simplificação de uma existência tão complexa! Eu quero o seu bem. Quero que a vida lhe recompense por ter errado tanto e apesar disso ter se tornado a pessoa que eu conheci: tão amável, sincero e simples e eu tão acostumada à odiável falsidade de pessoas complexas apenas na indecisão sobre se devem fazer o certo, ao contrário de vc. Continue fazendo o que é certo: ame a quem pode te amar. Entregue-se a quem pode se entregar e confie apenas em quem confiar em vc. Eu não mais amo, me entrego ou confio e vc merece alguem com tudo isso, merece o estado de graça de sentir-se perdidamente apaixonado por alguém que sinta o mesmo que vc! Não tenha medo de se perder! Eu já me perdi e assim continuo, procurando algo ou alguém que me faça acreditar novamente em dois. Agora não acredito, mas seja feliz sem mim, eu não posso continuar com vc.

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26 de junho

_Oi, mocinho, como foi a viagem?
_ Foi legal. estou cheio de coisas prá te contar...
(Ele ficou com alguém)
_É mesmo? Como é que estavam os shows?
_Estavam muito legais, mas eu passei frio de noite e me queimei de sol de dia, olha aqui! E vc, o que fez hoje?
_Eu sai com umas amigos, fomos na casa de um conhecido, o fulano, sabe?E ficamos jogando um truco que depois virou strip-poquer, e ficou todo mundo pelado!
(Nessa hora ele pensa que eu transei)
_Ah é? Mas nesse frio?
_ Fazer o que, né? Só a fulana não tirou a roupa pq ela joga muito bem, masteve um 'verdade ou desafio' depois e eu beijei um cara que estava lá, um conhecido que eu já tinha beijado antes...
_Só beijo?
_É, só beijo, e nessa hora eu estava de roupa. E vc, beijou alguém lá?
_Beijei, na verdade eu transei tb.
_Ah é? Usou camisinha?
_Usei, usei.
_Como foi?
(...)
_Fica mais um pouco comigo mocinho...deixa eu deutar no seu colo...está machucando?
_Não, tá ótimo. Fica aqui me abraçando assim...
_Que saudade! Vc sabia que eu...te adoro?
_Um pouquinho...
_E que é muito bom ficar com vc? (Algo passa pela minha cabeça, não digo)Vamos dar uma volta?
(...)
(Entãoem uma hora eu sinto todos os meus músculos se contraindo e relaxando, meu coração dispara, sua temperatura, seu cheiro, tudo sobre a minha pele. Ele me abraça, deitando por cima de mim e me beija com tanto carinho, me toca com uma paixão tão respeitosa que eu sinto o peso, dele e do resto. Queria dizer...queria, mas não tive coragem, nem naquele momento, nem em nenhum outro depois.

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12 de julho
(Eu):
_Voce pode ser meu amigo, ou voce pode ser meu amante, mas não pode mais ser meu namorado.
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Agosto
3: _"Como assim? O que eu iria dizer de vc se eu te reencontrasse daqui há muito tempo? Isso não vai acontecer, quem disse que a gente vai se separar? Tá bom, se acontecesse o que não vai acontecer...Bem, sobre vc eu iria dizer que eu te conhecia, vc era advogada, toda cult, fogosa, que gostava de andar de preto e era bem relacionada, tipo assim, que tinha uns amigos engraçados...também ia falar que vc não era muito linda, não, era linda o suficiente...se levava muito à sério... não confiava nos instintos tb, é claro que não confia! Quem confia no instinto não fica pensando e vc adora ficar pensando!...Ah, eu ia dizer que vc vinha aqui em casa me ver, me levava prá uns lugares legais... Eu não quero falar no passado! vc tá aqui...eu ia pensar que vc foi alguém com quem eu gostei muito de ficar, que tornou os meus dias melhores, mas que de repente começava a me enrolar...me pedindo prá falar como se a gente já tivesse terminado"
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_ É isso mesmo que vc quer? Vc sabe que está jogando fora um namorado dedicado, sincero e que gosta de vc de verdade? Vc sabe de tudo isso e concorda com os termos: "eu sei o que tenho nas mãos mas eu quero jogar fora, não quero mais". É isso mesmo que vc quer?!!!
_ É
_ Então vai ser assim. Mas eu não entendo. Eu fiz tudo certo, fui verdadeiro, fiz todo o possível dentro dos meus limites prá te entender e te agradar, sempre te tratei bem, aceitei quase tudo o que vc quis e eu gosto mesmo de vc, de verdade, eu sinto isso e tenho te falado só depois que eu passei a ter certeza. Eu realmente quero namorar, mas não é com qualquer uma como vc pensa, eu quero ficar com vc, tenho certeza que ia dar certo...mas vc não quer mais?!
_ Não, eu não posso. Não estou mais apaixonada por vc, vai ser melhor assim...
_Prá quem vai ser? Mas se é assim que vc quer, é assim que vai ser; Não quero que vc me veja, nem me ligue, nem que atenda se eu ligar. Se eu te ligar dizendo que quero falar com vc, não quero que vc atenda, ou então me diga que está ocupada, que não pode falar comigo, mas não fale comigo! Quero perder todo o contato com vc, talvez um dia não precise ser assim, mas é assim que é. É melhor que vc saia, abra o portão e deixe as chaves na portaria, eu não vou te acompanhar. Eu não vou me despedir.

Oração

Incensos e velas sejam acesos,
Soem as canções mais tristes,
No ouvido e no coração.
Que o espírito sinta o peso,
Quase insuportável,
De tudo o que inexiste.
Que os olhares se baixem
em respeito pelo que já morreu.
Surja dos céus ou da terra
o tardio conforto
prá quem teve a perda maior:
Respeito,
Uma ternura distante,
Uma manhã suave
Talvez ,
Deveria ter havido mais amor
onde agora há tanta saudade.

Diário dos monólogos dialogados do primeiro amor


Testemunho não enviado para um amigo no orkut
O que eu poderia dizer de alguém como ele que mostrasse a pessoa que ele é prá mim? Quando eu o conheci, vi um menino bonitinho que tocava violão e de quem as pessoas gostavam de estar por perto; quem acabava de conhecê-lo tinha a sensação de que ali estava alguém que merecia ser conhecido mais à fundo. Num mundo com pessoas tão desinteressantes e previsíveis ele causa curiosidade. Talvez, logo depois ele cause uma constante apreensão em todos os que encontram-se ao seu redor: como ele consegue ser uma pessoa tão sensata, com valores éticos tão coerentes? Como se pode ficar em paz com a própria consciência depois de conhecer alguém tão sólido em seus princípios? Ele destrói a paz de espírito dos que o rodeiam. Destrói e reconstrói. Como não se incomodar consigo mesmo depois de se conviver com alguém tão inteligente, esforçado e ciente de seus objetivos? Como não se incomodar com o próprio egoísmo depois de ver alguém tão preocupado com os outros e com esse mundo de caos? Como se olhar no espelho e se sentir feliz com o que se é depois de se conhecer uma pessoa tão generosa com amigos ou com estranhos? Não há como conhecê-lo sem ter dentro de si uma grande perturbação espiritual ou uma vontade irrenunciável de se tornar alguém melhor, tão melhor quanto ele. Talvez seja impossível escrever como é alguém assim ou talvez nem todos possam enxergar o que é uma luz numa noite escura. Eu pude. mas pude tb conhecer alguém com um senso de humor tão refinado e irônico que consegue fazer rir de todas as coisas contra as quais só se pode rir. Alguém a quem se quer ouvir quando quase nada acalma o coração. Assim é ele, uma pessoa que faz falta onde quer que ele não esteja e que deixa mais melancólica a vida daqueles que no momento só podem tê-lo no coração, como eu.

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Melancolia

(Fiquei com vontade de te escrever hoje. de repente lembrei da gente e de um monte de coisas que nós passamos juntos e me senti tão agradecida, tão feliz com a vida por poder guardar na memória lembranças tão lindas quanto as que eu tenho de vc. Eu posso ficar meses sem pensar em vc e de repente, como agora, me surge algo que aquece meu coração. me lembro do seu sorriso, da sua voz, me surpreendo com algo que lembra vc, o que vc me diria, o que pensaria de mim agora? Então, parece que o tempo não passou, mas outras vezes me pego pensando se foi nessa vida que eu conheci vc. no final do ano passado quando me sentei perto de vc e senti novamente seu cheiro, seu toque, ouvi sua voz tão perto, parecia que a qualquer momento eu estaria outra vez deitada com vc na sua sala assistindo TV ou no seu quarto olhando cada coisa sua como se fosse minha, desejando estar na sua vida mas do que na minha. Mas não, passam-se anos, eu não vou mais viajar no começo da semana, vc não está mais tão indeciso com o futuro. Num momento impensável tudo some de mim e vc não é mais o que eu tinha. Tudo mudou. vc está longe agora que a única forma que eu tenho de te encontrar é nesse lugar incerto e falho escondido no meu coração. Eu podeira dizer que nunca mais eu encontrei alguém com quem fosse tão bom conversar, alguém que fizesse meu espírito não se sentir sozinho num mundo de idéias dispersas...Tinha a sua voz suavemente desafinada, seu olhar timidamente ansioso e todo o seu jeito sem jeito: uma luz incandescente que emanava da sua alma e me iluminava tb. Depois, tanta noite. Do que me espera, nada espero, do que foi sei que nunca mais meu corpo, minha mente e meu coração desejaram a mesma pessoa. Nunca mais a certeza de que mesmo que tudo mostrasse o contrário, eu encontrara a pessoa certa, não só para aquele momento. Então agora vc está tão longe, num lugar onde a minha memória não pode alcançar e eu possuo apenas fragmentos de vc, sonhos, imagens, como um raio de luz saído de uma estrela e que permite que a estrela seja vista, mas apenas um reflexo que nunca mais integrará o todo. Talvez sejam só lembranças, talvez eu queira algo que não exista mais, mas eu queria ter certeza.