Meu Namoradinho Gay
Não sei quando é que tudo isso começou a complicar, mas acho que começou a ficar interessante quando descobri que já tinha ficado com ele. Logo depois daquela última festa ele começou a namorar e sumiu, só apareceu alguns meses depois no meu aniversário com o namorado (a velha história do desperdício conhecida por todas as mulheres hétero... houve quem mudasse de opinião sobre quem era o mais bonito do casal, mas eu não). Dias depois vendo as fotos do aniversário minha amiga reparou que ele era muito parecido com um cara que estava no meu álbum da época da faculdade, um que eu havia ficado quase dez anos atrás, com o mesmo nome e apresentado como um amigo gay de um colega gay da faculdade... eu sei, confuso. Olhei as fotos: muitas semelhanças, muitas diferenças, não me convenci, só confirmei quando alguns dias depois ele me mandou um recado implorando para que eu tirasse aquela foto do meu orkut (ele estava muleque, aquela foto queimava sua fita, ele morria de vergonha, blábláblá - certeza que era prá evitar ciume da biba, o que reforçou minha idéia de não tirar a foto sob circusntância alguma, sempre tive prazer em irritar parceiros ciumentos, não importando a orientação sexual...) falei que ia tirar mas não tirei, havia prometido a mim mesma que não apagava uma foto, uma história, uma frase sequer da minha vida, nunca mais, depois de um namorado ciumento que tive; não tinha vergonha da minha vida, se ele tinha vergonha da dele o problema não era meu... era a desculpa que dava prá mim mesma, a verdade é que eu adorava aquela foto! Lembrava exatamente daquela noite louca, no meio de um período sentimentalmente caótico, em que meu amigo gay da faculdade apareceu em uma festa na minha casa com um menino lindo, um amigo que iria com ele prá uma balada gay e que (tristeza) também era gay. Não me conformei, não acreditei e não desisti, conversei e conversei, talvez o tenha embebedado um pouco, falei que não me importava que ele não gostava de mulher, eu não era só uma mulher, eu era EU! Uma pessoa, as pessoas deveriam transcender essas bobagens de sexo, preferências, preconceitos e que ele tinha que ficar comigo por quem eu era e que ele não poderia me descartar assim, só porque eu não era homem, não era justo ele não me achar interessante só por isso...(estou envergonhada, foi um tanto de lábia, tanto de um desejo inexplicável ou despeito e um pouco de vontade dele, é claro, mas essa conversa funcionou) nós ficamos e foi ótimo, quer dizer, prá mim pelo menos. Não costumo me lembrar de muitas coisas de caras que só vi uma vez e que não tive nada mais íntimo, fisica e psicologicamente, e foi este o caso, mas me lembrava bem deste: lembro que me gabei pq ele não ficou tão desinteressando quanto eu imaginei. Ele gostou de mim, gostou do meu corpo, de estar comigo, lembro dele se espantar um pouco com a sua empolgação ao me tocar, ele gostou, definitivamente. Homens mentem, seus corpos não (pelo menos não naquela época em que essas pílulas não estavam tão na moda). Mesmo agora, de vez em quando ele ainda me lembra de que não apaguei a foto album eletrônico, dou uma desculpa mas ela está lá e vai continuar, um troféu de uma época em que não ganhei muitos, a lembrança de uma dessas poucas noites em que parece que nada é impossível. Sim, foi aí que o tirei daquela minha lista mental do desejos que deveriam ser guardados prá um futuro distante e irrealizável. Acho que quando me dei conta de tudo isso abri caminho para que a história começasse a ser um pouco mais complicada e continuasse aquela noite de 9 anos atrás.